quarta-feira, 18 de junho de 2008

“Sou una e múltipla, fragmentada e inteira,
curva e planície, zênite e abisso.
Sou superfície e fosso, laços e cisão,
silêncios e barbúrdias, muitas e nenhuma.

Meus pedaços me juntam em esfinge
e me insulam no arco-das-sete-cores
de onde espio infinitos e precipícios
como se dona de todos os mundos.

Minhas antíteses, polaridades
se perdem sempre em meus campos
e ocultam verdades, faces e falácias
do medo que me escamoteou os sonhos.

Meus inversos mostram os enigmas
(guardados em redoma de alabastro),
que escondem máscaras, alegorias
e as almas dos amores todos,
cujos corpos há muito migraram”.

Enigma - Lêda Selma

quarta-feira, 14 de maio de 2008

A carta de demissão da ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, caiu como uma bomba para mim. Não pela sua atitude digna e corajosa, mas por ser, dentre todos esse ministros puxas sacos, a única que se mantinha fiel aos seus ideais. Ela era uma esperança. Lembro que, já enfraquecida pela colisão com outros ministérios, Marina chegou a dizer que não mudaria sua administração para ficar no governo: “Perco o pescoço, mas não perco o juízo”.
Desde que me conheço por gente, quando alguém pergunta quem eu gostaria de ser se não fosse eu, respondo: “Marina da Silva”. Sua história de vida é belíssima. Órfão aos 16 anos, Marina trabalhou como doméstica para estudar, fez dois supletivos, formou-se em História pela UFAC e fundou a CUT no Acre ao lado de Chico Mendes, assassinado em 1988. Ela é um exemplo da luta pela causa ambiental, de perseverança e resistência, que passou por cima de todas as adversidades para chegar aonde chegou. Tudo isso sem perder a doçura.
Farta de ser humilhada, ela saiu para não ter o mesmo destino do ex-Ministro da Educação, Cristóvão Buarque (demitido por telefone depois de incentivar jovens de uma universidade pública a exigirem melhor qualidade de ensino). Se bem que Lula não teria coragem de demiti-la. Sua saída poderia ter uma repercussão internacional negativa, como ocorre agora.
Um projeto que começou em janeiro de 2003 - com a tentativa de fazer da conservação ambiental o centro de uma agenda de desenvolvimento, cuja implementação é hoje o maior desafio global – fica enfraquecido.
Marina amargou muitas derrotas (crescimento do desmatamento na Amazônia, inúmeras concessões, como o licenciamento ambiental para a transposição do Rio São Francisco, construção de Angra 3...) e um governo que parece privilegiar um crescimento econômico insustentável não a merece.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Dias atrás, o Alec, do Infaces, passou um meme muito interessante sobre oito coisas que você faria antes de morrer (com as respectivas justificativas). Neste momento, é difícil falar com convicção sobre desejos tão remotos. Longínquos porque ainda estou em meio a uma volubilidade sem fim. Os sonhos de ontem já não são os de hoje, e estes podem ter uma vida bem curta. Em busca de certezas, tento reorganizar meus pensamentos, por ora exauridos, desarranjados e vagos (o silêncio do blog é uma decorrência).
Para completar, li que um dos grandes problemas dos jovens dessa geração não é a apatia, mas não saber exatamente o que querem. Mesmo não me sentindo impassível, essa frase me causou uma certa crise de identidade. Descobri o que quero também é descobrir o que sou e aspiro tornar-me. Então, lá vai:

1. Morar sozinha;
2. Morar com alguém (não é contradição com a anterior, mas, depois de morar sozinha, preciso passar pela experiência de dividir o teto com alguém por um tempo. No momento, a idéia de “por toda uma vida” parece impossível.);
3. Fazer mestrado (não sei em qual área, mas quero fazer em outra cidade - e morando sozinha);
4. Fazer faculdade de História e Filosofia;
5. Ensinar em uma universidade pública;
6. Ler todos os livros da minha interminável lista e ter uma biblioteca;
7. Conhecer toda Europa;
8. Aprender a cozinhar, dançar (melhor) e desenhar.

terça-feira, 6 de maio de 2008

por fora,
trago o sabor
da amora;

por dentro,
uma saudade
que devora.

por fora,
comemoro
a vida;

por dentro,
sou veia cava
obstruída.

por fora,
um banquete
sobre a mesa;

por dentro,
essa dinamite
acesa.

morreu o cravo,
sonhando
a margarida.

pelo próprio espinho,
se fez a rosa,
ferida.

por fora,
a poesia move;

por dentro,
o verso suicida.


Marcos Caiado

terça-feira, 22 de abril de 2008

Ela não conhece.
Ela não está preparada para viver isso.

Confusa, agora avalia que, no fundo, é como sempre foi: insegura.

I-N-C-O-S-T-A-N-T-E.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

sábado, 12 de abril de 2008

Por mais que as idéias estejam soltas e os pensamentos, desconexos, esperar que isso se torne um ciclo sem fim parece não ser uma boa alternativa.
Momento de olhar para dentro e decidir: acostumar-me de vez, vivendo de doses homeopáticas, ou tentar não ser o Cara estranho que o Camelo descreveu (“É a solução de quem não quer perder aquilo que já tem e fecha a mão pro que há de vir...”).

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Eu, mal acostumada com o sobejo de sentimentos, sempre arrebatada por cheiros, palavras e sons, estou a me angustiar com esse estado de normalidade, sem quaisquer distorções, anomalias ou esfinge. Passar os dias com o espírito sereno não é algo que me preenche. A felicidade assim parece sem graça.

Preciso de êxtase. Derramar-me.

terça-feira, 25 de março de 2008

Existem coisas que o tempo não apaga.
Mesmo passando doze semanas santas longe de casa, recordei de um ato que minha inesquecível Vó Edite fazia: jogar as sobras do almoço da sexta-feira para os peixes no Rio São Francisco.
E por que não revivê-lo?
.

Na despedida, um lindo presente em pleno sertão nordestino.

Baterias recarregadas, saudade no peito e incerteza do próximo regresso.

sábado, 22 de março de 2008

Desci do trem.
E estou seguindo à risca o merecido descanso total.

sábado, 15 de março de 2008

É, Deus, parece que vai ser nós dois até o final...”. O show era de Lenine, mas foi a música de Marcelo Camelo que não saiu da cabeça.

Tudo conspirava contra. Ingressos esgotados, desistência dos amigos (por motivos justificáveis) e um engarrafamento inacabável. Para completar, por falha na comunicação, minha irmã e seus amigos atrasaram 40 minutos. Começando a ficar irritada, fomos à procura dos ingressos nas mãos dos cambistas. Meia hora depois e... Nada! O show inicia e, finalmente, consigo o meu, mas minha irmã e seus amigos desistem. No impulso, resolvo, então, entrar sozinha (ultimamente, não vejo problema em sair só, mas não para um show. Foi a minha estréia. E a decisão foi a mais acertada). A Concha Acústica estava lotada e consegui um lugarzinho bem no gargarejo. Meio deslocada, ouvi as primeiras notas da música A rede e me achei. Pronto! Estava em casa.

O show foi maravilhoso. Lenine estava um “louco lúcido” e eu, em estado de êxtase. Era como se só nós estivéssemos ali. A banda e eu. E, é claro, a música do Camelo. Não sentia falta de nada. Mesmo com fome e com uma barra de chocolate na bolsa, não queria perder um segundo daquele momento. Estava em estado de plenitude.
Foi uma sensação indescritível. Não era auto-suficiência. Era um estar em mim, uma percepção de que, naquele momento, eu me bastava.

“(...) Ninguém vai saber de nada
E eu sei
Pelo sentimento
Pelo envolvimento
Pelo coração...
.
Eu sei!
Pela madrugada
Pela emboscada
Pela contramão...
.
Qualquer dia
Qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora
Tudo é invenção...
.
Ninguém vai saber de nada
E eu sei
Por qualquer poesia
Por qualquer magia
Por qualquer razão... “

Tudo por acaso - Lenine

sexta-feira, 14 de março de 2008

Mesmo tudo indo bem, nada tem muita graça hoje. Só queria você. Deitar ao seu lado, sentir seu cheiro e sua (quase) barba aranhando minha pele.
.
Desligar-me.
.
E fazer do seu sorriso o meu mundo...

sábado, 8 de março de 2008

A vida segue.
E eu apenas digo:
que venha o amanhã,
porque o dia da tristeza foi ontem.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Essa alma que há vários dias só sentia o sabor salgado do pranto, abriu as janelas.
A angústia, o “não sei exatamente o quê” ainda estão aqui, mas agora acompanhado de um largo sorriso estampado no rosto.

Up


“Baiana que entra na roda e só fica parada
Não samba, não mexe, não bole nem nada
Não sabe deixar a mocidade louca.
Baiana é aquela que entra no samba de qualquer maneira

Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras
Deixando a moçada com água na boca.
.
A falsa baiana quando entra no samba

Ninguém se incomoda, ninguém bate palma
Ninguém abre a roda, ninguém grita ôba
Salve a Bahia, senhor.
.
Mas a gente gosta quando uma baiana

Samba direitinho, de cima embaixo
Revira os olhinhos dizendo
Eu sou filha de São Salvador!”
.
Falsa Baiana - Geraldo Pereira

.
*Foto tirada no carnaval de Olinda.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Exijo o direito de ficar calada. No meu canto. Sem barulho, para não abafar minha voz, meus clamores, sussurros e brados.
Preciso de quietude. De uma manhã chuvosa, assistindo Amélie Poulain, acompanhado de um pote de Nutella
.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

“Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto” .
.
Confissão, de Mário Quintana.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Tenho medo de estar querendo muito. Receio que minhas insatisfações sejam sem fundamento e as escolhas sejam, na verdade, uma evasão. E que, quando tudo mudar, perceba que não foi uma boa opção. Entretanto, aflição maior é não saber exatamente o que quero. Outro emprego, outra profissão, cursar História ou Filosofia, preparar-me para o Mestrado, mudar de cidade...
As dúvidas e a indecisão me dominam (quando vão me deixar?), mas é hora de ser prática. Estou levando o bonde adiante (agora, de bom humor), sujeitando-me a uma alternativa por vez. A primeira opção já está em ação. Se não der certo, pulo para outra. Só não quero ser blindada pela covardia, pois (adaptando uma frase da Ceisa, do Surto PsicoSSomático), a vontade de vida que tenho é maior do que qualquer tormenta.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Estou indo por um caminho que não tem mais volta. Não sei se é o ideal, mas, no momento, parece ser o melhor. Não tenho escolha. É isso ou ficar estagnada. É isso ou me tornar algo que não quero ser.
.
"O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência..."
.
Paciência (Lenine e Dudu Falcão)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Carnaval chegando.
Viagem programada para Recife.
E meu espírito pedindo paz...