sábado, 13 de outubro de 2007

Contradições

Após esperar dois meses (impacientemente) pela forma “legal”, assisti Tropa de Elite (ontem, sexta-feira, dia do lançamento em Salvador). Como era previsível, amei!
Calma! Não vou fazer deste post uma crítica cinematográfica. Afinal, não sou nenhuma Isabela Boscov. Mas vamos aos fatos: o filme de José Padilha é arrebatador! É um retrato fiel da violência urbana brasileira.
Visto em outros países, pode até parecer um novo Duro de Matar. As cenas de ação são velozes, sufocantes e produzem uma tensão comum nesse tipo de película. Mas, para nós, que acompanhamos diariamente via “TV Globo”, é ver nosso cotidiano por outro ângulo – o ponto de vista de quem mata e morre. Sem nenhum peso na consciência.
O filme é, na verdade, uma denúncia contra o tráfico nas favelas do Rio, a violência policial, corrupção, ONGs fajutas, tortura, segurança pública, classe média universitária consumidora de drogas... Todos eles vistos pelos olhos de um policial do BOPE, o Capitão Nascimento (interpretado por Wagner Moura), o novo herói nacional.
Um personagem - que aterroriza moradores inocentes, espanca e excuta traficantes com tanta frieza - é admirado por não ser corrupto. A que pontos nós chegamos! Contemplar um ser que mata, ao mesmo tempo em que celebra a chegada do seu filho. Que incoerência! Tudo isso gerado por uma crise moral e institucional, onde o culpado atual por todos os problemas é um tal de Renan “Coco” Calheiros. Nós somos os culpados. Governo não muda, pode apenas favorecer ou prejudicar a mudança. Quem muda a sociedade é ela mesma.
Um filme que deveria chocar, causa simpatia numa sociedade entorpecida e hipnotizada. Freud ensinou que censuramos (excluindo-as da consciência) algumas verdades porque são dolorosas demais ou excessivamente subversivas para a ordem que instauramos dentro de nós. Essa alienação é o preço que a sociedade paga para dormir bem. Uma cegueira coletiva diante da banalização da vida humana.
Por que é tão difícil compreender isso?
Não há política de segurança sem conexões estreitas com cultura e educação. Sei que essa vinculação hoje é quimérica. Afinal, quem deveria nos proteger é um dos geradores do conflito e quer mantê-lo assim (pela sua sobrevivência e de sua família). Mas n
ão estou defendendo bandidos. Só não compactuo com nenhuma forma de crime. Nem com a cumplicidade dos usuários de drogas com o tráfico nas favelas, nem com os compradores de DVD piratas.

“O inferno está perto de nós, é verdade. Mas há saída, sim. Basta olhar de perto e sentir o sopro de humanidade que vibra sob a máscara dos monstros” Luiz Eduardo Soares, MV Bill e Celso Athayde, em Cabeça de Porco.

“Os intelectuais continuam só pensando; os políticos, roubando e a sociedade inteligente sempre em silêncio
” Juliano VP, em Abusado, de Caco Barcellos.

Só um detalhe: Wagner Moura está espetacular. Não falo isso porque sou baiana e devo reverenciar meus conterrâneos. O cara é bom mesmo!


Um comentário:

Samy Teixeira disse...

Confesso que não consegui esperar estreiar no cinema.. acabei baixando na internet... mas gostei muito do filme.. mesmo querendo assistir de novo, por ter pedido algumas coisas.. minha irmã ficou falando e perguntando um monte de coisas durante o filme.. quase bati nela! Mas vou assistir de novo pra pegar o filme nos seus mínimos detalhes!
É bem verdade tudo que você disse.. nunca tinha parado pra pensar desse ponto de vista mas é que nossa sociedade é muito dualista.. bem e mal.. e essa história toda.. agente acaba bitolado a pensar assim também... e nunca ver que é possível um meio termo.. e talvez até "justo", diga mos assim... mas enfim.. ainda bem que existem pessoas como vc pra fazer um mundo melhor.. e pra fazer pessoas como eu pensarem... Beijo linda!!